Marquei na agenda esta hora e este dia para escrever este texto. Na verdade, o meu dia tem exatamente as mesmas horas do dia anterior e do dia que virá. Nada muda no que diz respeito ao tempo que contamos no calendário, mas, talvez mude o nosso tempo mental, aquele que decidimos ter porque é importante. Defino tempo mental como aquele espaço que crio para poder fazer o que quero. Independentemente das horas do relógio que marcarão sempre o mesmo ritmo, acredito num tempo que invento para mim, dentro de mim e que faço acontecer porque me permito controlar a prioridade: inventar um tempo que não existia, mas que passa a existir só porque eu quero.

Esta forma de olhar para um espaço que crio dentro de mim para que aconteça fora, na minha agenda, é uma forma de perceber que é possível que eu decida o meu próprio calendário. Olhar para um problema, por muitos partilhado, de que o tempo não chega e, simultaneamente, estagnar num lamento que me pode levar ao bloqueio ou, no limite, à frustração de não fazer aquilo que se quer, é uma escolha. Como se de um jogo se tratasse, olho para os dias e para as horas que se mantêm e invento forma de construir um espaço para me encaixar e, toda lá dentro, permitir-me usá-lo cheia da certeza de que, sendo importante, pode acontecer.

Na verdade, quando escolhemos muitas tarefas e as queremos encaixar num espaço e num tempo reais, esquecemos o tamanho desse mesmo espaço e desse mesmo tempo. A dificuldade em encaixar tudo o que queremos num lugar que já existe e que tem um tamanho próprio, faz-nos reclamar, mas, na realidade, ele sempre lá esteve, do mesmo tamanho.

A palavra espaço leva-me à perceção de que tenho tempo, isto é, quando encontro um espaço para escrever este texto que marquei na agenda, ser escrito a esta hora e neste dia, a sensação foi a de que o tempo existiu e, existiu porque eu o criei. Como se o espaço e o tempo, considerações científicas à parte, fizessem parte de uma realidade capaz de ser construída por mim, porque posso, porque quero e porque acredito ser possível.

 

Paula Capaz

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