Já há algum tempo que, sempre que o tema da conversa é a fase de vida em que estamos e quais as nossas perspetivas, afirmo “eu estou a trabalhar para chegar aos 100 anos de vida”. Já não me recordo como me surgiu esta afirmação, mas tem-me ajudado a ter um objetivo com um propósito claro e definido. Criei uma meta e agora, em cada decisão que tomo, tenho uma bússola que me orienta o trajeto e facilita as escolhas que faço.

Não quero com isto dizer que sei que vou chegar aos 100 anos de vida. Claro que eu não sei e não me preocupo com isso. Estarei cá o tempo que estiver e quando já cá não estiver, estará tudo bem também. O que isto significa para mim é que, no que estiver nas minhas mãos, eu vou fazer por ter uma atitude que me permita aos 100 anos de vida. E, naturalmente, não quero chegar toda torta e cheia de maleitas, mas sim com a melhor qualidade, saúde e bem-estar possíveis.

Isto levou-me não só a fazer escolhas mais conscientes, mas também a ter maior resiliência para manter estas escolhas vivas. Agora sei que estou a trabalhar para o longo prazo pelo que tudo o que tenha que ver com questões mais imediatas, mas que possam comprometer o meu objetivo são ponderadas e submetidas a um maior escrutínio. Não quer o com isto dizer que não as faça, mas estou mais consciente das consequências ou ajustes que vão requerer.

O benefício desta afirmação foi ter expandido os meus horizontes e as possibilidades que inserem. Como já celebrei meio século de vida, se me basear exclusivamente na esperança média de vida das mulheres, que ronda os 83 anos, o espectro é menor do que aquele que me estou a permitir contemplar.

O que mais tenho gostado neste processo é aperceber-me que tenho orgulho das escolhas que faço, divirto-me, saboreio-as e aprendo com elas. Fazem todo o sentido para mim e tudo o que não faço não me custa nada.

Por exemplo, sou vegetariana há mais de dez anos, fi-lo de um dia para o outro quando me apercebi que não queria continuar a “matar para comer”. Com isto em mente foi-me fácil fazer todas as escolhas daí para a frente e, nem o facto de tomar conta da alimentação de uma família de cinco me complicou a vida. Comecei por “comer à volta”, fazendo exatamente as mesmas refeições, mas tirando para o meu prato apenas o que “não tinha olhos”. Simples. E depois, gradualmente, passei a saborear todos os alimentos que por tradição são considerados como acompanhamento mas que, para mim, têm o papel principal. E são tantos e tão bons. E o mais engraçado é ver as pessoas à minha volta com os olhos postos na diversidade de cores e aromas do meu prato.

Para chegar aos 100 as mudanças têm sido muitas, e agora pensando bem, se calhar eu iria fazê-las na mesma, mas com menos consciência ou por outras razões e, provavelmente, com mais mágoa, ressentimento e receio.

Em tudo o que posso, tenho tirado a mão do volante e o pé do acelerador contrariando a minha necessidade de controlo e rapidez de execução. Para isso, tenho vindo a alterar e a dosear a minhas atividades profissionais, desafiando e empoderando as equipas com quem trabalho.

Pratico exercício físico diversificado de forma regular e, dentro do objetivo de me manter saudável, arranjei forma de ter atividade física incluída na minha atividade profissional – realizo reuniões online e ao telefone a caminhar e, enquanto coach, faço sessões de walking coaching. O movimento, está provado, incita à abertura e à criatividade na procura de soluções e o exercício físico tem impacto imediato no cérebro (segundo estudos científicos de Wendy Suzuki, neurocientista).

Trabalho também a minha respiração e estou atenta onde coloco o meu foco. Organizo-me para ser produtiva e célere nas minhas tarefas e faço reflexões regulares individuais e em equipa sobre a nossa performance incidindo sobre o que correu bem, dando-nos a oportunidade tão importante e esquecida de celebrar e ficar contentes connosco, e refletindo sobre o que é preciso para ser melhor, com humildade e abertura, sabendo que o erro faz parte do processo e que há sempre mais oportunidades de crescimento.

Tudo isto implicou também alterar alguns paradigmas, pré-conceitos e até valores que eu tinha muito enraizados e que me serviram durante grande parte da minha vida, mas que, agora, podem já não me servir tão bem, e que, se levados ao exagero têm o risco de se tornar defeitos, como o imperativo da segurança financeira, o cumprimento de tarefas a todo o custo, a disponibilidade total para os outros, entre muitos outros.

E que papel tem o coaching nisto tudo? Tem tido o papel principal já que sem o conhecimento que o coaching me conferiu, bem como as suas técnicas e ferramentas eu não estaria tão consciente do que quero fazer e como o quero implementar.  

Se vou estar cá até aos 100, convém que aproveite esse tempo para me sentir bem comigo e com os outros e que continue a ser útil em primeiro lugar a mim, à minha família e amigos, colegas e parceiros e todas as pessoas que interagem comigo.

Paula Gonçalves Pereira

Coach Executiva

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